De viagem. Com destino ao Algarve. E com esperança de ainda aproveitar os últimos raios de sol deste Verão, agora sem confusões nem complicações. A meio do caminho o estômago começa a pedir um pouco de atenção. Sai-se da estrada principal, procura-se um restaurante qualquer. E já dentro da povoação lá estava um, de aspecto modesto e asseado. Estaciona-se o carro numa rua próxima, pequena e sem graça. Só brilha a placa com o nome: Rua José Carlos Ary dos Santos. O acaso levou-nos à eterna Vila Morena. Em jeito de homenagem, ao homem e às gentes alentejanas, ficam aqui as palavras do poeta.
"As Portas que Abril abriu"
Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
(...)
Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempo do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.
(...)
Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.
Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.
(...)
Foi esta força viril
de antes de quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.
E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.